Gosto dos livros do Amyr Klink. Alguém que decide sair da costa da África em um barco a remo, e 100 dias depois, sozinho, remando por todo o Atlântico, chega em ao Brasil, na cidade de Salvador, são (?) e salvo.
Me refiro ao livro “100 dias entre Céu e Mar” (https://amzn.to/49euAwE). Minha história com o Amyr começou ao ganhar esse livro de presente a alguns bons anos atrás. Me deparei com uma leitura super prazerosa de um homem que se lança ao mar para ao final de 100 dias mostrar que seu louco sonho é possível.
Virei um fã. E nessa de fã acabei descobrindo outros grandes desbravadores, alguns citados pelo próprio Amyr que inspiraram ele nessa jornada. Ernest Shackleton foi um deles.
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Shackleton foi um explorador, que no começo do século 20 tentou chegar ao polo sul, em um momento que aquela região era uma grande e inexplorada área do mundo. Ele tenta essa realização por duas vezes, perdendo a corrida para outros exploradores.
Mas o fato de não ter conseguido vencer essa corrida de exploração é apenas um detalhe de uma das histórias mais incríveis de superação e de liderança.
Em agosto de 1901, Shackleton, então com 27 anos se junta a expedição de Sir Robert Scott para o polo sul. Eles chegam mais próximos ao polo sul que qualquer outra pessoa já havia chegado, mas Shackleton fica doente e tem que retornar para casa.
Então, ele determina para si mesmo uma meta – ser o primeiro explorador a cruzar o continente ártico a pé.
“Possuo um estranho chamado pelo misterioso sul. Eu me vejo um dia chegando às origens do gelo e da neve, indo e indo, até que eu chegue ao oposto da Terra, o fim dos eixos, onde a grande bola redonda dá a volta.” (Ernest Shackleton)
Em 8 de Agosto de 1914 a expedição começa. Imagine enfrentar temperaturas de -50 graus centígrados com as roupas de um explorador do começo do século 20! Inicialmente composta por 27 tripulantes, o navio, chamado Endurance (resistência, melhor nome impossível) segue para a Antártica.
3 meses e 27 dias depois ele faz contato com o último ponto com humanos, uma estação baleeira na ilha da Geórgia do Sul. O Endurance segue para uma grande área gelada da Antártica.
E 5 meses e 10 dias depois fica preso no gelo, impedindo o navio de se mover completamente.
A tripulação faz todos os esforços possíveis para liberar o barco. Porém as condições climáticas não ajudam. O gelo volta a se formar ao redor do navio de forma tão rápida que é impossível liberá-lo.
Então eles decidem fazer a única coisa possível – esperar. Esperar todo o inverno para que no verão Antártico, o navio possa ser liberado e eles continuem a jornada. E eles esperam pacientemente por mais 9 meses (!) dentro do navio. 14 meses e 19 dias depois da partida, o Endurance começa a ser esmagado pelos enormes blocos de gelo. A tripulação decide abandonar o navio.
Não resistindo a pressão, exatos 15 meses e 13 dias depois do início da expedição, o Endurance afunda na Antártica deixando toda a tripulação com apenas algumas barracas, um bote salva vidas e os poucos mantimentos que eles conseguiram tirar do navio.
A tripulação inteira continua no mesmo ponto, esperando as condições climáticas melhorarem, se alimentando de focas e do que eles conseguiam caçar e vivendo da forma como era possível.
5 meses depois, 20 meses e 1 dia corridos desde o início da expedição, Shackleton decide se lançar ao mar com o bote que sobrou, junto com mais dois tripulantes para procurar ajuda. Quem sabe eles não conseguiriam retornar para Georgia do Sul e pedir ajuda na estação baleieira?
A jornada não foi fácil. Foram 2 semanas no mar, remando, até conseguirem chegar na ilha. Infelizmente eles chegam do lado oposto da estação baleieira na ilha. Não tendo recursos para contornar a ilha de barco eles decidem andar até o outro extremo, enfrentando um abismo de gelo e montanhas. Os 3 tripulantes levaram 36 horas sem descanso e sem parar para chegar na estação.
Ao chegar na estação, eles são levados ao escritório do gerente. Seus rostos estavam cinza, cabelos emaranhados. Quem é você? Perguntou o gerente. E ele responde, meu nome é Shackleton. O gerente virou e começou a chorar. Todos sabiam quem era Shackleton, mas ninguém acreditava que ele estava ali, em frente a eles, vivo.
Shackleton finalmente está a salvo, mas seus pensamentos estão nos homens que ele deixou para trás. Esses homens já estavam a quase dois anos longe de casa, presos no gelo desde o início dessa inacreditável aventura.
Ele faz 3 tentativas de retornar para resgatar seus homens, mas o gelo não permite que ele chegue. Ele continua tentando, por mais 4 meses! Para os homens que ficaram, toda a esperança tinha acabado. Eles não acreditavam mais que seriam resgatados e que retornariam para casa.
Até que no dia 30 de agosto de 1916 eles avistaram um navio, vindo em sua direção. Quando o barco chegou próximo o bastante para que eles pudessem ser ouvidos, eles gritaram: “todos bem, todos bem!”.
Shackleton estava no pequeno barco, ansiosamente contando todas as figuras que estavam na praia de gelo. Olha para o lado e diz – todos eles estão lá! Todos estão salvos!
Nenhuma vida foi perdida. Toda a tripulação foi salva.
Essa é a história de resistência, perseverança e liderança mais incrível que já li. E o que mais me impressiona, é uma história real.
O aprendizado aqui foi de que um líder precisa proteger o seu time. Esse time vai cruzar oceanos e resistir as mais duras provações, se ele entender que existe um líder e um propósito por trás de tudo o que eles estão vivendo.
Eu demorei para internalizar isso. Proteger seu time não significa não os expor ao difícil, as vezes ao impossível. Pelo contrário. Um líder precisa fazer que seu time entregue o máximo, cruzando limites que muitas vezes eles nem sabiam que conseguiriam transpor e isso vai gerar dor.
Shackleton formou um time que sabia que poderia acreditar nele e que ele lutaria até o fim para conquistar o objetivo, ou trazê-los de volta para casa, a salvo.
Proteger o time é criar um ambiente seguro o suficiente para que eles saltem, sabendo que você será a rede de proteção deles. Acredite, eles vão saltar cada dia mais longe.
Sobre viajar…
A GreenMile, empresa que eu co-fundei, cresceu. De uma pequena startup no Ceará/Brasil, ela virou uma empresa vendendo software no mundo inteiro. Foi uma jornada incrível e intensa, que me fez conhecer lugares que eu nunca pensei em ir. Nosso primeiro cliente fora do Brasil foi em Israel, mas tive a oportunidade de visitar o Japão, diversos países da Europa, América Latina, inúmeros lugares nos EUA, Canadá. Conhecer culturas diferentes, realidades de negócio diferentes, línguas diversas… Foi engrandecedor.
Depois de algumas voltas ao mundo em milhas, encerrei minha jornada lá com um exit em 2021. Chegamos aonde nunca havíamos pensado em chegar. Mas só chegamos por conta de um time incansável, que sonhou por muitos anos um sonho em conjunto comigo. Que se esforçou e deu o melhor de si em uma jornada árdua de mais de 10 anos. Não foi fácil, mas só tenho a agradecer a todos que fizeram parte dessa história. Obrigado!
E viajar virou parte da minha vida.
Sair de casa, olhar o mundo, retornar para enfim encontrar o que você saiu em busca. Encontrar a si mesmo.
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.” (Amyr Klink)