Dentre as diversas notícias do mundo tech nas últimas semanas, uma delas sobressaiu das demais em termos de relevância e magnitude: a compra da Activision Blizzard pela Microsoft, no valor de US$68,7 bilhões.
Além do valor astronômico da transação, que sozinho já chama bastante atenção por ser a maior transação da história da indústria, outro aspecto que salta os olhos é o fato da Microsoft ser um dos maiores players do mercado de hardware gamer (com a sua famosa linha de consoles Xbox), enquanto que a Activision Blizzard é uma das maiores produtoras de jogos eletrônicos do planeta — responsável por títulos como Call of Duty e World of Warcraft.
Isto posto, o que tal artigo se propõe a analisar são os racionais por detrás da transação, e o que a mesma irá significar para as duas empresas e para o universo dos videogames como um todo… (e não, Call of Duty não será exclusivo da Microsoft, podem ficar tranquilos amantes da Sony).
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Sinergia: a linda e doce palavra no M&A
Através de um primeiro olhar puramente financeiro, a compra da Activision Blizzard não faria sentido.
Explico: desde fevereiro de 2021, após atingir a máxima histórica, as ações da companhia começaram a se deteriorar. Em dezembro do mesmo ano, as ações valiam quase metade do seu preço em fevereiro e com poucas perspectivas de que iria melhorar.
Desta maneira, um olhar puramente financeiro não explica a aquisição de bilhões de dólares, entretanto, a Microsoft não é um hedge fund e suas aquisições não são puramente financeiras.
Como forma de corroborar com essa afirmação, deve-se olhar para outras aquisições da companhia ao longo dos anos.
Porventura, em 2016, a Microsoft adquiriu o LinkedIn por US $26,2 bilhões — assim como a Activision Blizzard, uma transação 100% em cash. O racional por trás dessa transação foi a integração do LinkedIn ao seu pacote de produtos Office (outlook, sharepoint, excel, etc.), assim, incrementando o seu leque de produtos para profissionais — os quais representam 25% do faturamento da empresa — com uma rede social focada no público corporativo.
Logo, entender que o racional estratégico que engloba a aquisição da Activision Blizzard é entender as sinergias que a transação propõe para as duas empresas.
Criando uma gigante na indústria
Primeiramente, a operação cria a terceira maior empresa do mundo na indústria dos games por faturamento (atrás apenas da Tencent e da Sony), consolidando a Microsoft como um dos pesos pesados da indústria.
Do ponto de vista estratégico, apenas o fato de adquirir uma das maiores produtoras de games do planeta já servirá de combustível para o crescimento da divisão de gaming dentro da companhia e aumentará, exponencialmente, o catálogo de jogos do Xbox Games Pass (o serviço de jogos por assinatura da Microsoft).
Entretanto, a companhia fundada por Bill Gates não se tornou trilionária pensando apenas no ordinário.
A grande aposta da Microsoft está no metaverso.
Resumidamente, o metaverso é uma espécie de nova camada da realidade que integra os mundos real e virtual. Na prática, é um ambiente virtual imersivo construído por meio de diversas tecnologias, como realidade virtual, por exemplo — como não sou especialista no assunto, deixarei meus colegas do Rapadura Tech explicarem melhor para vocês. [ADICIONAR LINK]
Mas o que a aquisição de uma desenvolvedora e publisher de games tem a ver com o metaverso?
Metaverso como estratégia de mercado
A Microsoft é uma companhia única quando se fala de metaverso.
Por deter diversos setores diversificados dentro da empresa, a gigante americana possui uma presença extremamente marcante no dia a dia do cidadão médio.
Exemplificando, neste momento, estou escrevendo de um computador que roda o sistema operacional Windows 11 no aplicativo Word; mais tarde, quando eu for para o escritório, irei utilizar o Outlook para responder meus e-mails, o Sharepoint para compartilhar meus documentos de trabalho, o Teams para me comunicar com meus colegas, e o Powerpoint e o Excel para realizar minhas tarefas diárias; e, por fim, quando chegar em casa do trabalho, irei jogar uma partida de Warzone (Call of Duty) no meu Xbox Series S.
Conseguimos entender agora o porquê desta unicidade da Microsoft.
Com isso em mente, se pode compreender o racional utilizado pela empresa na aquisição. A Activision Blizzard é proprietária de diversos jogos extremamente populares entre os gamers e streamers ao redor do mundo, mas são jogos cuja a principal função é fazer os jogadores se engajarem nas suas respectivas plataformas.
Games como God of War e Legend of Zelda são extraordinários, mas possuem alcance limitado dentro de suas plataformas por serem jogos focados no single player offline.
Enquanto isso, games como Call of Duty: Warzone, World of Warcraft, Overwatch e Candy Crush (todos de propriedade da Activision Blizzard) são jogos focados no multiplayer online, que rendem milhões não apenas com a venda de unidades, mas com a interação dos seus players ao longo dos anos — seja através das suas polêmicas microtransações de competições ao redor do globo ou streams no Youtube e na Twitch.
Integrar esses games dentro do metaverso da Microsoft é uma grande vitória para a companhia que vem, ao longo dos anos, aumentando seu catálogo de jogos e produtos, e focando na experiência completa do player dentro de sua plataforma.
Conclusão
Quando pensamos em M&A, tendemos a pensar no Walmart comprando um mercadinho no cafundó do Judas para aumentar seu market share naquela região, mas estratégias de aquisições são muito mais amplas e diversas do que isso.
A Microsoft vem fazendo um trabalho fenomenal com suas aquisições (ou já esquecemos a aquisição da Bethesda em 2021 e da Mojang em 2014?), mas esse artigo não foi pago por Satya Nadella e nem foi criado com a proposta de elogiar uma empresa de trilhões de dólares.
O intuito deste artigo é enfatizar o quão eficaz uma boa estratégia de fusões e aquisições pode se tornar. Entender o seu mercado, e para onde você e sua empresa almejam chegar é fundamental para apostar nos cavalos certos.
Dessa forma, entrar numa onda “apenas por entrar” é fadar seu projeto ao fracasso, entretanto, quando você desenha uma estratégia coordenada para atacar um novo mercado promissor e alinha essa estratégia com um plano de M&A competente, todos os universos (digitais e reais) se tornam alcançáveis.