Hey Rapaduras! E em Fortaleza(CE), o calendário de eventos envolvendo inovação e novos negócios não para! Agentes locais e importantes nomes do empreendedorismo nacional e internacional têm contribuído para a consolidação da capital cearense na agenda nacional de palestras, meetups, workshops e uma outra ruma de coisa.
Como parte dessa efervescência, teve início no dia 12/09/18, na Câmara dos Dirigentes Lojistas do Ceará (CDL), o “Doing Business in Ceará – O Mundo 4.0: Economia, Comércio e Direito Impactado Pelas Inovações”, promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Maurício Benvenutti foi o encarregado de abrir o ciclo de palestras mensais desta 3ª edição do evento, com o tema “As 5 Competências Para Construir Carreiras e Negócios Inabaláveis nos Dias de Hoje” . Benvenutti é o autor do Best-Seller “Incansáveis”, mentor de grandes empresas e sócio da StartSe, a maior plataforma de startups do Brasil. Ele foi responsável por consolidar a XP Invesimentos como a maior corretora do Brasil e uma das maiores da America Latina, e veio a Fortaleza promovendo seu mais recente livro, “Audaz”, no qual oferece insights importantes gerados a partir de sua opção por empreender no vale do Silício, há 4 anos.
A palestra foi só o pitel! E Abordou a importância da diversidade, da crítica ao status quo e de que modo é possível inovar não “para”, mas “com” o cliente dentro de um mundo em que pelo menos 65% das crianças de hoje trabalharão em postos de trabalho atualmente inexistentes.
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Em um rápido bate-papo, Benvenutti falou da importância com que novos paradigmas da sociedade do conhecimento corroboram seu pensamento segundo o qual “empreender não está apenas ligado à criação de um negócio. Porém, é uma atitude de vida”.
Confira:
Rapaduratech: Em seu livro “Incansáveis” você menciona a importância de aceitar o erro como parte do sucesso em empreender. A seu ver, quais as principais diferenças, nesse quesito, entre a visão norte-americana e a brasileira?
Maurício Benvenutti: Eu acho que o Brasil já avançou muito nessa questão, mas, culturalmente, ainda, em algumas áreas e regiões do Brasil, quando você erra você é tido como um fracassado, alguém que a sociedade aponta o dedo e coloca um “Looser” na cabeça e cria-se esse estereótipo. Isso já foi muito mais forte no passado. Eu vejo, por exemplo, que, principalmente nesse mundo de startup, isso já não é mais uma verdade, já tem muito uma consciência americana. No Vale do Silício o erro é apenas um trampolim para você construir algo melhor. Errar faz parte do processo. Quem não erra não inova. As falhas são indicadores que te mostram as tentativas e erros necessários para você conseguir alcançar os objetivos, então isso é muito comum e é uma característica do Vale: você Inovar para alcançar os objetivos. No Brasil, há muito tempo, existia um pensamento de falha igual a fracasso. Eu estou rodando muito os quatro cantos do país e isso já está sendo superado, com exceção de algumas regiões e alguns setores.
Rebeldia, conhecimento e capital são o tripé que forma um ecossistema de fomento à inovação. Esses três fatores do tripé são envoltos por um quarto fator que é o poder público. Se você tem o poder público com políticas de isenção fiscal de incentivo à inovação, de facilidade para o empreendedor, você acelera esse processo.
RT: Uma grande mudança introduzida na ótica da Startup enxuta foi a busca de entrega de valor não apenas “para” mas “com”o cliente. Quais setores da Indústria 4.0 não podem de jeito nenhum se distanciar dessa relação com o cliente?
Maurício Benvenutti: Eu acredito em fazer “com” o cliente ao invés de “para” o cliente. Todos os setores precisam agir dessa forma. Todos. Absolutamente todos. Da advocacia à contabilidade, à indústria de ensino, à indústria médica, à indústria que trabalha com óleo, que trabalha com metais, com mineração. “Com” o cliente, não “para” o cliente. Por que? Porque o maior risco de você desenvolver um projeto nos dias de hoje, onde tudo muda muito rápido, não é a falta de dinheiro, recursos ou contato, mas é passar 6,12,18 meses da vida criando algo para só descobrir depois desses meses que ninguém quer consumir. Então, uma das formas de você reduzir esse risco, de jogar fora esse tempo todo, é trazendo quem vai consumir o produto para dentro do processo produtivo, isso serve para qualquer setor, qualquer segmento da indústria 4.0, qualquer segmento da economia. Esse conceito hoje nunca foi tão possível – o fazer “com” ao invés de fazer “para” – em escala. Hoje dá para se fazer praticamente qualquer produto “com” as pessoas, não “para” as pessoas em escala global, com muita gente, com milhares de pessoas. Hoje, só para ter uma ideia, todo usuário do Facebook está sendo teste de alguma coisa. O Facebook tem 2 bilhões de usuários e esses 2 bilhões de usuários, nesse exato momento, estão testando alguma nova funcionalidade do Facebook, porque o Facebook faz “com” as pessoas não “para” as pessoas. Então, esse conceito se aplica a toda a indústria 4.0 e a todos os setores da economia: fazer “com” ao invés de fazer “para”.
Rebeldia, conhecimento e capital são o tripé que forma um ecossistema de fomento à inovação. Esses três fatores do tripé são envoltos por um quarto fator que é o poder público. Se você tem o poder público com políticas de isenção fiscal de incentivo à inovação, de facilidade para o empreendedor, você acelera esse processo.
RT: Aqui em Fortaleza alguns agentes se uniram no intuito de fomentar o ecossistema local, originando iniciativas como o Rapadura Valley e o Iracema Digital. Do seu ponto de vista como se caracteriza um ecossistema de inovação? E quais fatores são determinantes para a sua sustentabilidade?
Maurício Benvenutti: Bem, sobre o Rapadura Valley, existem três fatores envoltos por um quarto que determinam um ecossistema de fomento da Inovação. Primeiro é a presença da rebeldia, você tem que ter o rebelde, o inconformado e o desobediente, aquela pessoa que questiona o status quo. Segundo, você tem que ter conhecimento, ou seja, a presença de entidades acadêmicas de disseminação do conhecimento, que constantemente estão colocando gente boa e talentosa no mercado. Terceiro, tem que ter presença de capital, de fundos, pessoas, investidores ou empresas que investem nesses novos projetos e fazem seus projetos saírem do papel e virar realidade mesmo cientes de que boa parte das startups morrem ao longo do caminho. São aqueles tomadores de risco. Pessoas investem em dez projetos, sendo que oito não vão dar certo e os dois que vão dar certo pagam todo investimentos dos que deram errado e ainda dão lucro. Então rebeldia, conhecimento e capital são o tripé que forma um ecossistema de fomento à inovação. Esses três fatores do tripé são envoltos por um quarto fator que é o poder público. Se você tem o poder público com políticas de isenção fiscal de incentivo à inovação, de facilidade para o empreendedor, você acelera esse processo. Se você não tem o poder público jogando junto, obviamente, você atrasa esse processo. Então se o ecossistema de fomento que está sendo criado em Fortaleza conseguir estimular de uma certa forma esses três pilares, mas com a ajuda do poder público municipal e estadual, certamente vai ter os elementos básicos do que é um ecossistema de inovação, sendo praticados de uma maneira muito intensa.
RT: Mediante as intempéries financeiras que ocorrem atualmente, quais fontes de recursos ou linhas de créditos, que as startups podem buscar para dar continuidade no seu processo de criação e inovação?
Maurício Benvenutti: Em relação ao financiamento para startups eu acredito muito que o modelo brasileiro vai seguir alguns modelos de outros países, que é o recurso para investir nas startups originado de grandes empresas e não apenas dos Venture Capitals (VCs), ou dos fundos de investimentos em venture capital. Essas empresas, hoje, possuem uma série de dificuldades e precisam se reinventar. É preciso se movimentar rápido e na grande maioria das vezes elas não possuem essa velocidade e não têm esse skill para fazer as mudanças. Uma startup, na maioria das vezes, não tem o cliente, não tem o recurso ou a credibilidade; porém , a Startup tem a agilidade e a velocidade que uma grande empresa tanto precisa. Então, unir esses dois mundos, unir uma grande corporação que é lenta mas que tem credibilidade, marca, competência, branding, recursos e clientes, unir isso a uma startup que não tem todas essas características mas tem a agilidade, é um casamento perfeito. Nos Estados Unidos, a grande indústria que fomenta a maior parte do investimento em startups é feita de VCs, porém o Corporate Venture Capital, os CVCs, que é o investimento feito das corporações, é um dos que mais cresce hoje no mundo. Em alguns países que têm indicadores econômicos parecidos com os do Brasil (por exemplo, México e Índia), há a presença do CVC de forma muito intensa. No meu entendimento, uma das grandes fontes para financiar as startups no Brasil já vem e continuará vindo das corporações que têm a necessidade e o recurso para investir em Startups.
Tem uma série de questões que serão levantadas em relação ao mundo cada vez mais guiado por dados, que, naturalmente, vai precisar ser acompanhado de um aumento dos controles de privacidade, para permitir que a gente ganhe benefícios e comodidades na nossa vida por conta de todos os avanços que vão acontecer, mas, ao mesmo tempo, que a gente seja protegido em relação a qualquer malefício proveniente da escala que esses dados vão nos dar.
RT: As tecnologias da Indústria 4.0 desencadearam um aumento desenfreado do fluxo e o tratamento de dados. Como você interpreta a dimensão do controle sobre os dados? E a privacidade?
Maurício Benvenutti: A gente está diante de um cenário onde dados são o novo petróleo. Na década de 80 as maiores empresas do ranking da Forbes eram empresas de óleo, de mídia, de entretenimento, de bebida e de varejo. Hoje, as cinco maiores empresas do mundo são empresa de dados: Amazon, Facebook, Google, Apple, Microsoft. Na medida em que quanto mais dados eu tenho, mais eu consigo entregar experiência, mais recomendação para o meu cliente e mais eu agrego valor. Realmente, a quantidade de dados no mundo só vai aumentar. Imagina quando a gente tiver carros autônomos andando nas ruas, gerando dados por segundo, uma quantidade imensa e toneladas de dados circulando de um lado para o outro. Imagina quando as smart cities estiverem funcionando, a quantidade de dados trafegando numa cidade. Quando a gente tiver a internet das coisas aplicada dentro de casa para automatizar residência, enfim, vai ser uma loucura. Então, a quantidade de dados no mundo só vai aumentar de forma exponencial. Eu posso estar errado, mas 80% dos dados de hoje (que a gente tem no mundo em 2018) 80% deles foram gerados nos últimos dois anos. Depois você pode checar para ver se é realmente isso, mas já é um número mais ou menos parecido com esse. Ou seja, a maior parte dos dados que a gente tem hoje no mundo foram gerados nos últimos dois anos, então, é um absurdo. É natural que surjam mecanismos para prover segurança e controle de privacidade desses dados. Vão [os mecanismos] precisar ser desenvolvidos, porque imagina quando você tem um carro que não é mais dirigido por uma pessoa, é dirigido por um computador que gera dados. Se eu consigo entrar dentro dessa cadeia de informação eu posso pilotar carros pelo mundo, eu posso acessar informações de pessoas que não autorizaram isso. Então tem uma série de questões que serão levantadas em relação ao mundo cada vez mais guiado por dados, que, naturalmente, vai precisar ser acompanhado de um aumento dos controles de privacidade para permitir que a gente ganhe benefícios e comodidades na nossa vida por conta de todos os avanços que vão acontecer, mas, ao mesmo tempo, que a gente seja protegido em relação a qualquer malefício proveniente da escala que esses dados vão nos dar. Apesar de tudo isso, eu ainda sou um otimista, e acredito que boa parte do mundo sendo gerido por dados e informações vão fazer a vida das pessoas cada vez melhor.