Você já recebeu conselhos ruins?
Em 2011, em meio a uma onda de demissões na indústria da energia de carvão causadas pela política pró energia limpa do governo Obama, jornalistas cobrindo a história recomendaram aos mineiros demitidos que “aprendessem a programar”.
Oito anos depois, em 2019, foi a vez da mídia digital. Mediante uma onda de demissões na indústria de mídia digital americana, diversos jornalistas de meios como o Buzzfeed, escutaram a mesma recomendação: “Aprendam a programar!”.
🚨 Vagas abertas para o nosso grupo de ofertas que vai te fazer economizar MUITO!
Para a maioria das pessoas que vivem imersas no mundo digital, “aprenda a programar” pode até ser vista como uma sugestão sarcástica, porém poucos contradiriam a sua sabedoria. Afinal, o mundo digital precisa de programadores e nós não temos nenhuma intenção de abandonar o mundo digital.
Só que não.
A verdade é que, graças a IAs como Devin, que trabalham como Engenheiros de Software, “aprender a programar” deixou de oferecer qualquer garantia de segurança financeira. De acordo com Jesen Huang, CEO da NVIDIA, programação está rapidamente se tornando um skill redundante. Segundo Huang, “É nosso trabalho criar tecnologia de computação tal que ninguém precise programar e que a linguagem de programação seja humana”.
Nasce a primeira IA Engenheira de Software
A Cognition Labs, uma startup focada no desenvolvimento de sistemas de IA, acaba de apresentar Devin, sua IA dita a primeira engenheira de software totalmente autônoma do mundo.
Em uma série de vídeos, pesquisadores da Cogniton Labs demonstram as capacidades de Devin de receber uma instrução inicial e executar todo o processo de desenvolvimento de software autonomamente, sem a intervenção humana, e entregar um produto funcional.
Este marco, além de ser um testemunho chocante da velocidade com a qual a IA está avançando, ilumina proezas extraordinárias, desde benchmarks de desempenho que desafiam as expectativas até avanços em raciocínio e planejamento estratégico de longo prazo. Se Devin consegue de fato entregar resultados demonstrados nos vídeos, estamos presenciando a redefinição do possível no universo do desenvolvimento de software.
“É nosso trabalho criar tecnologia de computação tal que ninguém precise programar e que a linguagem de programação seja humana”. Jesen Huang, CEO da NVIDIA
O que o Devin tem de especial?
No cerne da proeza de Devin está sua capacidade, quase mítica, de realizar, sozinho, tarefas de engenharia do começo ao fim.
Segundo o material liberado, Devin traça meticulosamente cada etapa do processo, munido de ferramentas próprias como editor de código, navegador de internet e console. Devin é capaz de executar milhares de tomadas de decisão, construir e implementar aplicações com estilização completa e gerenciar, sozinho, todo o stack tecnológico.
Ao ser posto à prova, Devin produziu resultados espantosos. No TheWeBench, um benchmark conhecido por testar a habilidade em resolver pepinos reais encontrados no GitHub, o Devin deixou para trás LLMs gigantes como o GPT-4 e o Claude. Com uma taxa de sucesso de 14%, Devin impressionou ao ultrapassar o desempenho não assistido do ChatGPT-4 em 7x, demonstrando de forma impressionante a sua capacidade em enfrentar desafios complexos de engenharia.
Por trás das habilidades espantadoras de Devin, está a abordagem inovadora da Cognition Labs ao raciocínio lógico e o planejamento de longo prazo.
Devin não apenas é capaz de manter o contexto sempre em foco, mas também de aprender com suas próprias experiências e, impressionantemente, corrigir seus erros, algo além do alcance de sistemas tradicionais de software. Devin, entre outros desafios, é capaz de atuar de forma autônoma e:
- Desenvolver e lançar aplicações completas;
- Treinar e depurar outros modelos de IA;
- Acessar e utilizar repositórios públicos com o Github;
- Executar tarefas pagas no Upwork;
- Realizar benchmarks de desempenho;
- Depurar o próprio código e corrigir bugs;
- Criar e executar testes de qualidade;
- Aprender a usar tecnologias sobre as quais não tem conhecimento prévio;
- Aprender a partir da leitura de posts em blogs e gerar as soluções desejadas;
Follow the money
Diante do potencial notável de Devin, a Cognition Labs conseguiu arrecadar $21 milhões de dólares em uma rodada de financiamento Série A, liderada pela Founders Fund.
Esse investimento reflete a fome que a indústria tem por soluções de IA com potencial de impacto revolucionário em todas as áreas de atuação humana, incluindo engenharia de software. Com esse aporte, a empresa planeja aprimorar e ampliar as funcionalidades de Devin, abrindo caminho para inovações ainda maiores no desenvolvimento de software com IA.
So What?
Se o Devin entregar realmente o potencial de suas capacidades avançadas, estamos olhando para uma revolução na engenharia de software sem precedentes:
- Aumento de produtividade: A eficiência de um agente autônomo que planeja, codifica, depura, testa e implanta aplicações de forma independente é algo que nunca presenciamos. O que antes demandava semanas de trabalho em equipe, o Devin pode realizar em horas, o que seria um salto exponencial em produtividade. Se for sustentável e previsível, Devin iniciará uma onda de redução drástica no investimento em equipes de engenharia ao oferecer a capacidade de trabalho de vários engenheiros, mas por uma fração do custo.
- Democratização do desenvolvimento: Ao atender instruções em linguagem natural, Devin torna o desenvolvimento de software acessível a mais pessoas e pequenas empresas, o que pode iniciar uma onda de inovações por aqueles que anteriormente não tinham condições de competir no mercado. Enquanto algumas funções vão desaparecer, vai surgir a necessidade de novas habilidades na gestão, configuração e interação com IA. Essas funções irão capitalizar sobre um acervo de competências como design de sistemas e arquitetura de software.
- Desafios éticos e de segurança: A autonomia de IAs como Devin levanta desafios que a indústria precisará enfrentar, como questões críticas sobre responsabilidade, viés e segurança. Caso a IA crie algo que é destrutivo aos interesses de terceiros, de quem é a responsabilidade?
Ao mesmo tempo, em que a promessa de Devin gera ondas de entusiasmo nos círculos de aficionados em IA, existe uma clara mudança na vibe entre os desenvolvedores de software. A adoção em massa dessa tecnologia implica em mudanças profundas, disruptivas e potencialmente permanentes. O conselho de 2011 que garantia que “aprender a programar” era a bala de prata para um futuro de segurança financeira não envelheceu nada bem.
O que um IA que consegue programar do zero, qualquer aplicativo ou website desejado vai ter na sua rotina? Isso é uma grande oportunidade ou o fim da hegemonia intelectual humana?