Imagine embarcar em um trem-bala rumo ao futuro. No início, visando o conforto dos passageiros, a aceleração é suave, permitindo que todos acomodem suas bagagens e se acomodem para apreciar a paisagem.
Gradualmente, a velocidade aumenta. Você ainda consegue admirar a vista, mas os letreiros e outdoors já viraram um borrão, completamente ilegíveis. Antes que você possa se adaptar, a paisagem externa se desmancha, substituída por listras frenéticas de cor e luz que não se assemelham a nada que você conheça.
Os sinais luminosos no trem piscam em um ritmo alucinante, tão rápido que se torna impossível discernir por onde você acabou de passar e qual será a próxima parada. Na verdade, paradas deixaram de existir. Aqueles que estão a bordo agora se agarram aos apoios dos assentos, enquanto os que ficaram para trás, nas estações, já não conseguem mais embarcar.
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Essa é a realidade da inovação em Inteligência Artificial (IA) hoje. Estamos avançando tão rapidamente que quem estuda essa tecnologia já tem dificuldade em se manter atualizado e a sociedade mais ampla segue desinformada, sob a expectativa que o avanço tecnológico segue de forma razoavelmente linear como tem ocorrido nos últimos 30 anos.
A realidade é que:
- O ritmo acelerado da inovação em IA está criando um abismo de conhecimento que separa os que estão no trem da inteligência artificial e os que estão aguardando para embarcar quando forem forçados por pressões mercadológicas;
- As implicações desse abismo para indivíduos, negócios e sociedade em geral são profundas e abrangentes;
- É necessário e imprescindível o investimento em educação para construir uma ponte sobre esse abismo;
Bem-vindo à Era da Singularidade
Para entender a magnitude desse desafio, precisamos apreciar o quão rápido a IA está evoluindo. Estamos nos aproximando do que é conhecido como “Singularidade” – um ponto teórico no futuro quando a inteligência artificial ultrapassará a inteligência humana, levando a mudanças tecnológicas tão rápidas e profundas que representam uma ruptura irreversível na história humana.
A pouco mais de dois anos atrás, profissões altamente repetitivas eram consideradas como as claras vítimas de um processo de automatização introduzido por máquinas inteligentes. Isso porque nossa definição de máquinas inteligentes excluía as atividades que dependem de criatividade, raciocínio lógico, e tomada de decisão. Ou seja, a elite intelectual se garantia enquanto o trabalhador manual que deveria se virar para aprender a programar.
Acontece que o advento dos Modelos de Linguagem Grande (LLMs) e Stable Diffusion viraram essa expectativa de cabeça pra baixo.
Hoje, o ChatGPT-4, o mais recente modelo de linguagem da OpenAI pode escrever programas complexos, compor músicas e até passar em testes desafiadores como o exame da OAB, tudo com muito mais proficiência do que boa parte dos humanos. Assim também acontece com o DALL-E, que pode gerar imagens incrivelmente detalhadas e criativas a partir de simples instruções de texto.
Isso tudo de dois anos pra cá.
As pessoas ativas nas áreas já impactadas estão acordando para essa nova realidade. Artistas no mundo todo estão tentando barrar, ou pelo menos taxar, o avanço e uso irrestrito de IAs como o Midjourney. Engenheiros de Software, até mês passado, satisfeitos com o uso do ChatGPT para facilitar suas rotinas de programação, agora se deparam com o lançamento do Devin, da empresa Cognition, que se propõe executar o stack completo de tecnologia, reduzindo em muito a necessidade por um profissional da área.
“O ritmo de progresso em inteligência artificial (não estou me referindo à IA estreita) é incrivelmente rápido. A menos que você tenha contato direto com grupos como a Deepmind, você não tem ideia do quão rápido é” Elon Musk, CEO da Tesla.
O Abismo do Conhecimento
Mas enquanto vários entre nós seguem maravilhados com esses avanços, muitos estão completamente alheios ao impacto que a IA terá na sociedade.
Um estudo feito pela Ipsos identificou que 41% dos trabalhadores sem poder de tomada de decisão na Inglaterra não sabem usar IA no ambiente de trabalho, contra 21% dos líderes.
Como disse Ilya Sutskever, Ex-Diretor Científico da OpenAI, “Se você valoriza a inteligência acima de todas as outras qualidades humanas, você não vai gostar (do que vem por aí)”.
Uh oh
— Elon Musk (@elonmusk) November 19, 2023
Esse abismo do conhecimento levanta sérias preocupações:
- Acesso e adoção desiguais: Nem todos terão acesso aos benefícios da IA, exacerbando as desigualdades existentes.
- Falta de entendimento e consentimento informado: As pessoas podem interagir com sistemas de IA sem entender completamente as implicações.
- Regulamentação e governança insuficientes: A velocidade da inovação em IA pode superar a capacidade de governá-la efetivamente.
- Impactos disruptivos no trabalho e na sociedade: A automação impulsionada pela IA pode levar a deslocamentos maciços mais rápido do que podemos reagir.
- Riscos existenciais e consequências não intencionais: IA altamente capaz, mas mal alinhada com os valores humanos, pode representar uma ameaça à humanidade.
Se Preparando para o Futuro
Então, como podemos nos preparar para essa nova era?
Primeiro: priorizar habilidades e competências fundamentais como pensamento crítico e aprendizado contínuo.
Na era da IA, a capacidade de analisar informações complexas, fazer perguntas difíceis e adaptar-se a novas circunstâncias será mais importante do que nunca.
Isso significa reformular nossos sistemas educacionais para não enfatizar o conhecimento factual, mas sim as habilidades de raciocínio, resolução de problemas e criatividade.
Também significa cultivar uma mentalidade de crescimento e curiosidade que nos permita continuar aprendendo ao longo da vida. Isso porque a velocidade da evolução da IA significa que qualquer conhecimento pontual adquirido ao longo de um semestre no sistema educacional atual, já chegará ao defasado ao mercado.
Ao priorizar essas competências fundamentais, podemos construir uma sociedade mais resiliente e preparada para navegar nos desafios e oportunidades da era da IA.
Segundo: encorajar a colaboração interdisciplinar.
A IA não é apenas uma questão tecnológica – ela tem profundas implicações sociais, éticas, econômicas e políticas. Para moldar seu desenvolvimento de maneira responsável, é preciso reunir uma ampla gama de perspectivas e conhecimentos. Isso significa criar espaços e plataformas para que especialistas em IA, cientistas sociais, formuladores de políticas, líderes empresariais, defensores da comunidade e o público em geral participem juntos de diálogo e deliberação contínuos.
Através da polinização cruzada de ideias e da construção de pontes entre silos disciplinares, podemos desenvolver uma compreensão mais holística dos desafios que enfrentamos e elaborar soluções mais resilientes. Colaboração, não isolamento, é a chave para navegar com sucesso na era da IA.
Terceiro: desenvolver estruturas de governança ágeis que possam acompanhar o ritmo da mudança tecnológica.
Os atuais sistemas regulatórios e de governança foram construídos para uma era analógica e demonstram uma dificuldade enorme para acompanhar a velocidade vertiginosa da inovação digital. Para gerenciar efetivamente os riscos e maximizar os benefícios da IA, precisamos de novas abordagens que sejam flexíveis, adaptáveis e voltadas para o futuro.
Essa abordagem deve incluir a criação de órgãos dedicados à supervisão da IA, compostos por especialistas técnicos, eticistas e representantes da sociedade, para monitorar os desenvolvimentos emergentes e fornecer orientação em tempo real. Será preciso também o desenvolvimento de ferramentas para o planejamento de diferentes cenários especulativos para antecipar os desafios futuros e desenvolver estratégias de forma proativa. Ao adotar uma mentalidade de governança ágil, podemos criar sistemas mais responsivos e resilientes para orientar a trajetória da IA na direção a resultados positivos para todos.
Em seu livro Organizações Exponenciais, Salim Ismail aborda as ‘competências essenciais’ necessárias para que o sistema educacional possa lidar com esse novo paradigma. Algumas dessas competências incluem a criação de estruturas ágeis com a habilidade de ganhar escala e se adaptar rapidamente, a tomada de decisões com base em dados e a alavancagem das competências internas com recursos terceirizados, como plataformas digitais.
So What?
Para garantir que o futuro não seja dominado por uma elite de “experts” em IA, ao detrimento do resto da população, é preciso ter claro que:
- O ritmo acelerado da inovação em IA está criando um abismo entre os que entendem a tecnologia e os que não entendem.
- Esse abismo levanta preocupações sobre desigualdade, ética, disrupção econômica e social, além de riscos existenciais.
- Para fechar essa lacuna, precisamos reinventar o sistema educacional para priorizar habilidades fundamentais, colaboração interdisciplinar e governança adaptável.
A era da IA já chegou, quer estejamos prontos ou não.
Cabe a todos nós garantir que essa tecnologia transformadora seja moldada de uma maneira que beneficie a humanidade como um todo.
Esse trem já está em movimento e ainda há tempo de embarcar, mas essa janela está se fechando rapidamente.
Como disse Sam Altman, CEO da OpenAI:
“Nós enfrentamos sérios riscos. Enfrentamos riscos existenciais. O desafio que o mundo tem é como vamos gerenciar esses riscos e garantir que ainda possamos desfrutar desses tremendos benefícios”.
Então, vamos trabalhar nisso. O futuro pertence aqueles que estiverem a bordo.