Encerrando nossa cobertura especial sobre o Futura Trends 2018 apresentamos a entrevista que tivemos com Cláudio Ricardo, presidente da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura de Fortaleza (CITINOVA).
O representante da Fundação é responsável por planejar, coordenar e orientar recursos de tecnologia que promovam políticas públicas e que melhorem a vida do cidadão fortalezense. O bate papo ocorreu logo após sua fala, na qual debateu sobre as tecnologias trazidas da Revolução 4.0 e de que forma impactam na cidade de Fortaleza.
Rapadura Tech: Como o Sr. avalia o papel do poder público no estímulo à indústria 4.0 e em que medida ela se constitui como um passo na efetivação de políticas de participação cidadã?
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Cláudio Ricardo: Eu particularmente tenho uma posição já muito maturada sobre essa questão. Considerando que hoje o conhecimento científico e a tecnologia representam valor e um bem material, nós precisamos popularizar e democratizar o acesso à tecnologia em todos os níveis, especialmente para aquelas pessoas que têm poucos recursos. Porque se a gente não partir para isso, a tecnologia vai servir de aprofundamento da desigualdade, que é o grande problema da humanidade hoje. Para democratizar e facilitar esse acesso, só é possível por intermédio das políticas públicas. Porque o setor privado… você pode cobrar alguma coisa de quem tem pouco… mas nesse sentido, é importante trazer a tecnologia para as políticas públicas também como fator de democratização do acesso, de redução das desigualdades e também para a prestação de serviços.
Rapadura Tech: Quais são os desafios no processo de “digitização” da população, ou seja, para tornar a sociedade cada vez mais digital?
Cláudio Ricardo: Fortaleza é uma cidade muito desigual e extremamente apartada, sendo fácil de perceber isso geograficamente. A forma de democratizar isso é ampliando os espaços de acesso à internet, por exemplo, nos espaços públicos. Executando uma política, que nós já praticamos: de dados abertos. Ou seja, liberar todas as informações não sensíveis da Prefeitura para a população em geral. Isso dá transparência e também serve de atrator para a cidade, porque, se a cidade provê informações, isso pode ser um aproximador de negócios, de estudos e pesquisas. O estudante vem à Fortaleza porque aqui ele pode desenvolver a sua tese, a sua dissertação. Porque ele tem acesso fácil aos dados. Aqui ele vai montar a sua empresa porque ele tem transparência e acesso aos dados. E hoje dado é o petróleo do século XXI. Isso é um clichê que já está posto. E esse dado quando gera informação, pode gerar também negócios e coisas importantes para a população em geral. Agora é preciso estar atualizado, ter transparência disso e ter segurança ao manipular esses dados.
Rapadura Tech: Como os cidadãos fortalezenses podem estar melhor preparados para essa nova “Revolução Industrial”?
Cláudio Ricardo: Nós temos alguns desafios grandes. Primeiro deles é a questão da educação.Nós temos hoje um alarmante número de analfabetismo funcional no Brasil. Segundo, a inclusão digital, que é alfabetizar essas pessoas do ponto de vista da tecnologia digital. São grandes desafios que só o poder público pode traçar políticas que venham a mitigar essa questão.
(…) nós precisamos popularizar e democratizar o acesso à tecnologia em todos os níveis, especialmente para aquelas pessoas que têm poucos recursos. Porque se a gente não partir para isso, a tecnologia vai servir de aprofundamento da desigualdade, que é o grande problema da humanidade hoje.
Aqui em Fortaleza nós temos as Casas de Cultura Digital que visam ampliar esse processo de formação desde a Juventude até os adultos. Nós temos hoje alguns processos que já estão sendo digitalizados e disponibilizados online, como é o caso dessa parte de licenciamento. Hoje você já faz o licenciamento completamente online. E agora com o Fortaleza Online você vai partir para outras áreas que não só a questão de licenciamentos, alvarás, mas poderá ampliar isso para as áreas de saúde, educação, mobilidade urbana… enfim, ampliar esse serviço online para a população em geral. Mas para isso é preciso preparar as pessoas para que elas possam utilizar essas tecnologias. É possível que nós venhamos a criar algumas agências para quando os serviços estiverem online, para que o público possa acessar e ser até treinado a utilizar essas tecnologias como acontece por exemplo em Lisboa. Lá existe uma agência de modernização administrativa onde tem espaços que as pessoas vão lá e consigam ser orientadas a utilizar esses serviços online. Provavelmente a gente tenha isso aqui também. Na medida em que formos disponibilizando serviços online para a população em várias áreas.
Rapadura Tech: As ações inovadoras da prefeitura destacam-se principalmente em termos de mobilidade urbana, seja com carros elétricos compartilhados ou bicicletas alugadas por meio de aplicativos. Que outro grande passo a prefeitura planeja dentro desse contexto?
Cláudio Ricardo: Eu diria que Fortaleza foi a cidade que mais avançou no Brasil quando se trata de mobilidade urbana. Não só pelas faixas exclusivas que você tem disseminada em toda a cidade, desde as áreas consideradas ricas da cidade até a periferia. As estações de bicicletas compartilhadas, que permitem essa integração com vários modais, carros elétricos compartilhados, as faixas exclusivas de ônibus onde a velocidade hoje é muito superior à velocidade média do automóvel na cidade, e que são facilitadores do processo de origem-destino da população. Muitas vezes, essa população mais pobre, que mora na periferia, tem que atravessar a cidade para trabalhar. Isso aí já representa um tempo enorme que podia ser dispensado em atividades de lazer ou outras atividades com a família. Hoje a gente consegue reduzir esse tempo de origem-destino, o que reflete em qualidade de vida dessas pessoas. Então a cidade avançou nessa questão da mobilidade urbana, na área de segurança do trânsito no que diz respeito a esse controle de velocidade. Isso representa um avanço importante das políticas públicas. Mas é preciso que isso chegue a outras áreas. Que isso chegue à saúde, à educação… Quanto mais nós pudermos facilitar a vida do cidadão melhor para a cidade, e reduz custos também, que é um item importante.
Rapadura Tech: Aconteceu durante os dias 6 e 7 de agosto, em São Paulo, o GovTech Brasil, que destacou este ano o tema da inovação no serviço público e o governo digital. Um dos palestrantes foi Toomas Hendrik Ilves, ex-presidente da Estônia, país que desponta na desburocratização e universalização do acesso digital aos serviços públicos. Apesar do país não ser um berço de grandes empresas de tecnologia, já conseguiu implantar votação via internet, identidade universal, acesso a histórico médico online, dentre outros. Quais as possibilidades para que ações como essas venham a se tornar realidade em Fortaleza?
Cláudio Ricardo: Eu diria que nós já estamos avançados nessas áreas: o barramento de dados, a política de dados abertos, ela vai exatamente nessa direção, você vai poder fazer um análise desses dados, dando suporte aos gestores públicos para decisões mais assertivas. Nós já temos o Fortaleza Online, na área do meio ambiente, com a SEUMA, que disponibiliza 22 serviços online. Como eu já falei, iremos ampliá-lo para outras áreas. Temos o programa Fortaleza Competitiva que também busca a desburocratização da cidade, tornar a cidade atrativa como ambiente de negócios, isso passa por tecnologia, passa por acesso a dados, passa pela disponibilização de serviços online. Essas ações devem atuar em conjunto, o nosso grande desafio é integrar isso. Hoje a SEFIN organiza um cadastro multifinalitário para a cidade. O barramento de dados que estamos construindo vai possibilitar que o cadastro do cidadão seja único, ou seja, que exista apenas “um cidadão” para a saúde, educação, meio ambiente, finanças, etc. Estamos padronizando as tecnologias a serem utilizadas nos nossos serviços e também organizando protocolos para facilitar todo esse processo. Nós temos uma estrutura muito grande de fibra ótica, o FIBRAFOR, que cobre boa parte da cidade. Temos também uma estrutura de armazenamento de dados bem robusta, com dois datacenters que são espelhados já em padrão internacional. O conjunto dessas ações que se espalham por diversas áreas é que vão tornar a cidade cada vez mais conectada e atualizada.
Rapadura Tech: Aconteceu durante os dias 6 e 7 de agosto. em São Paulo, o GovTech Brasil, que destacou este ano o tema da inovação no serviço público e o governo digital. Um dos palestrantes foi Toomas Hendrik Ilves, ex-presidente da Estônia, país que desponta na desburocratização e universalização do acesso digital aos serviços públicos. Apesar do país não ser um berço de grandes empresas de tecnologia, já conseguiu implantar votação via internet, identidade universal, acesso a histórico médico online, dentre outros. Quais as possibilidades para que ações como essas venham a se tornar realidade em Fortaleza?
Cláudio Ricardo: Eu diria que nós já estamos avançados nessas áreas: o barramento de dados, a política de dados abertos, ela vai exatamente nessa direção, você vai poder fazer um análise desses dados, dando suporte aos gestores públicos para decisões mais assertivas. Nós já temos o Fortaleza Online, na área do meio ambiente, com a SEUMA, que disponibiliza 22 serviços online. Como eu já falei, iremos ampliá-lo para outras áreas. Temos o programa Fortaleza Competitiva que também busca a desburocratização da cidade, tornar a cidade atrativa como ambiente de negócios, isso passa por tecnologia, passa por acesso a dados, passa pela disponibilização de serviços online. Essas ações devem atuar em conjunto, o nosso grande desafio é integrar isso. Hoje a SEFIN organiza um cadastro multifinalitário para a cidade.
A integração de dados é o sonho dos gestores e também da cidade, quando todos esses dados estiverem integrados, vai ser possível extrair um conjunto de informações que serão fundamentais para definir políticas públicas para melhorar a qualidade dos serviços prestados e dar suporte aos gestores em decisões assertivas, pois vai ser possível extrair bastante inteligência desses dados.
O barramento de dados que estamos construindo vai possibilitar que o cadastro do cidadão seja único, ou seja, que exista apenas “um cidadão” para a saúde, educação, meio ambiente, finanças, etc. Estamos padronizando as tecnologias a serem utilizadas nos nossos serviços e também organizando protocolos para facilitar todo esse processo. Nós temos uma estrutura muito grande de fibra ótica, o FIBRAFOR, que cobre boa parte da cidade. Temos também uma estrutura de armazenamento de dados bem robusta, com dois datacenters que são espelhados já em padrão internacional. O conjunto dessas ações que se espalham por diversas áreas é que vão tornar a cidade cada vez mais conectada e atualizada.Rapadura Tech: O que vem a ser o Fortaleza Online e qual a importância da tecnologia para a integração de dados, serviços e diminuição da burocracia?
Cláudio Ricardo: A integração de dados é o sonho dos gestores e também da cidade, quando todos esses dados estiverem integrados, vai ser possível extrair um conjunto de informações que serão fundamentais para definir políticas públicas para melhorar a qualidade dos serviços prestados e dar suporte aos gestores em decisões assertivas, pois vai ser possível extrair bastante inteligência desses dados. É isso que queremos fazer com a política de dados abertos e barramento de dados, que já tem reflexo em outras políticas como: políticas de infraestrutura de iluminação pública inteligente, no trânsito com os semáforos inteligentes, em políticas de segurança com os vídeo-monitoramentos, entre outros que podem rodar em uma rede de IoT por exemplo, área da defesa civil, segurança, educação, na saúde. O céu é o limite para essas aplicações, só com a cidade conectada e com uma boa infraestrutura você consegue implantar tudo isso. É importante também destacar que a tecnologia não é uma panaceia que irá resolver todos os males, nós precisamos ter o cuidado de perceber para quem estamos trabalhando e focar sempre no bem estar do cidadão, de outra forma não teria sentido. Ao disponibilizar um serviço, temos que ter o cuidado de fazer os testes de usabilidade, para saber se o cidadão aceita e interage bem com aquele serviço e se ele vai resolver o seu problema. Vale enfatizar também a importância da tecnologia em reduzir custos, permitindo aplicar recursos em outras áreas. É obrigação do poder público buscar esse processo de economicidade. Nós precisamos ter no Brasil essa cultura de que a eficiência tem que chegar ao serviço público, até como forma de você melhorar a qualidade do gasto. Você zelar pelos recursos que são sempre insuficientes para atender as demandas, quando você zela por isso você amplia os serviços prestados. Adicionalmente é importante vislumbrar uma política de privacidade desses dados, hoje se você não tiver cuidado, esses dados podem ser utilizados de forma errônea e invasiva, violando a privacidade dos usuários. Por isso que na nossa política de dados abertos nós só disponibilizamos dados não-sensíveis. Os dados sensíveis devem estar devidamente protegidos e criptografados para que o cidadão não seja invadido e que a ficção não se torne realidade nesse sentido, hoje que estamos vivendo tempos de big brother e essa questão da segurança dos dados e proteger a privacidade das pessoas é muito importante.