Um barco que leva tecnologia, inclusão digital e cidadania à população ribeirinha. Esse é o Barco Hacker. Uma iniciativa que surge em Belém do Pará, trafegando por rios e ilhas fluviais com ativismo e impacto social.
Muitos entendemos a palavra hacker associada à invasão tecnológica, apropriação de dados e informações indevidas. Contudo, o termo está historicamente ligado a pessoas curiosas, modificadoras de aspectos da realidade (ligados à tecnologia) e capazes de propor soluções não triviais aos desafios que encontram.
E é nessa vibe que surge o Barco Hacker. Desde 2014, a iniciativa já envolveu aproximadamente 1000 pessoas em encontros regados à promoção do desenvolvimento sustentável, empoderamento, inovação e cultura digital. Além disso já foi sede de uma edição da Startup Weekend em meio a suas atividades que envolvem cursos, palestras e workshops promovidos aos fins de semana.
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Batemos um papo com Kamila Brito, idealizadora da ideia, que confirma a tese que o contato com o real, além de ser a forma apropriada de validação de uma iniciativa empreendedora, também é a melhor via para gerar impacto na vida de pessoas. Seja no caos urbano ou nas ilhas da amazônia!
Confira!
Rapaduratech (RT): Oi Kamila! Diz pra gente o que é e como surgiu o Barco Hacker.
Kamila Brito (KB): É uma iniciativa que tem mais ou menos três anos e meio no Pará. Nada mais é do que um hub de tecnologia dentro de um barco, onde a gente promove uma imersão e experiência para várias pessoas de áreas diferentes, tendo como seu principal pilar a tecnologia. Tentamos unir pessoas e empresas que possuem iniciativas tecnológicas para essa imersão dentro do barco usando a teoria e a prática, onde esta última é feita em comunidades ribeirinhas. Realizamos oficinas, workshops e palestras, propondo uma imersão com a comunidade e verificando se o conhecimento gerado resolve algum problema dela.
O projeto não tem fins lucrativos, é feito por pessoas e para pessoas e acontece a cada 3 meses. A edição de 2019 conta com o apoio da prefeitura de Belém, agora, estamos com o desafio de utilizar os espaços públicos para o projeto, até então usávamos espaços privados, isso abre um leque de oportunidades, uma vez que podemos alcançar agora escolas públicas e mobilizar mais a comunidades.
RT: Como vocês identificam as necessidades da comunidade para realizar a inclusão digital e o contato com a tecnologia?
KB: Geralmente a tecnologia é uma carência, mas todos eles estão de alguma forma conectados. Ou possuem uma grande TV, ou celulares conectados a internet, porém não sabem como produzir conteúdo ou consumi-lo para resolver algum problema da própria comunidade.
Digamos que é inclusão digital e acontece quando a gente se propõe a fazer essa integração. Não existe um problemática na área técnica deles, mas existe o consumo do conteúdo que é gerado nessas ilhas, que as crianças consomem nas escolas e o quanto a mídia de massa influência no comportamento dessas comunidades mais tradicionais. Quando a gente leva até elas, de alguma forma, permite a comunicação e leva uma informação de que eles podem se empoderar e resolver os problemas que eles tem ali na na própria ilha através da informação e da internet dos próprios equipamentos que já possuem, isso gera um avanço e uma independência, oferecendo autonomia para que cada um na própria comunidade.
RT: Quais os principais parceiros que você tem? Você mencionou a Prefeitura de Belém. Há outros mais?
KB: Sim. Nós temos algum alguns parceiros no nosso ecossistema a nível de Brasil que são muito bons. Eu já participei de um programa de empreendedorismo do próprio Facebook que era de empreendedorismo feminino, onde a gente apresentava os nossos cases de sucesso e ao mesmo tempo empoderava outras mulheres também. E aí é importante de alguma forma que você seja uma referência em determinadas áreas que aí você pode inspirar outras mulheres com uma certa autonomia daquilo que você está falando. Então o Facebook é nosso parceiro tem outras empresas locais também que são nossos parceiros. A própria Elephant Coworking é onde nós temos uma sede. Ou seja, onde a gente trabalha fica dentro de um Coworking com uma economia colaborativa e tudo mais. Então assim, existe algumas empresas locais que acabam incentivando o projeto para que ele gere o impacto social no nível que a gente deseja trabalhar. Ainda é tímida essa atuação mas acho que a nível de Brasil a gente já consegue ter boas referências em livros e parcerias com universidades, com Centros de Tecnologia e isso é muito legal. Essa rede de pessoas que acreditam e podem fomentar conteúdo em um projeto bem diferente, né, que propõe uma imersão de inovação fora do comum e do tradicional
RT: Você acredita que essa iniciativa pode ser replicada de alguma forma aqui para o Ceará?
KB:Eu acho que as metodologias que a gente utiliza no barco, a questão do empoderamento e questão da gestão de comunidades ela é importante para qualquer ecossistema. Quando a gente tá falando da região norte e nordeste os nossos problemas são quase que os mesmos né, de infraestrutura ou de engajamento das pessoas. Então o projeto ele de alguma forma já tem essa habilidade e isso pode ser replicado e escalado para qualquer outra região, se for identificado realmente os mesmos problemas né, que a gente consegue solucionar trabalhando alguns quesitos mais pontuais para isso.
RT: Quais as semelhanças e diferenças entre os ecossistemas de Belém e Fortaleza?
KB: Eu acho que eles são diferentes como ele se organizam e como eles estão estruturados. A questão da infraestrutura, Fortaleza está mais na rota do turismo e acaba sendo uma referência cultural bem maior. E para a área de tecnologia eu acho que o ecossistema já tá maduro o suficiente. Já se fala já de vários temas, já se tem universidade fomentando vários cursos em várias áreas. Então eu acho que essa parte de infraestrutura de Fortaleza já está bem estruturada em relação, por exemplo, à Belém onde a gente tem uma infraestrutura básica mas ainda tem um trabalho muito grande de empoderar a academia de empoderar as secretarias ou instituições públicas para fomentar esse debate de cultura digital. A gente ainda não vê esse debate acontecendo. Então acho que essa é a principal diferença. Quando eu vou para a região que eu já discuto tecnologia, que eu já discuto cultura digital , que eu já discuto, de alguma forma, a necessidade real de ter uma comunidade engajada, é diferente quando eu ainda vou ter que fomentar esse debate. Então, talvez, Fortaleza esteja aí alguns anos na nossa frente mas nós temos tem uma experiência bem legal para contribuir para o ecossistema. Acho que vale essa integração.
Quando falamos de norte-nordeste tem que estar tudo integrado e não disperso. Porque a gente tem que falar de tecnologia e inclusão digital em qualquer área, em qualquer estado e em qualquer situação que esteja posta.
Eu já tive experiência de fazer uma oficina de tecnologia num campo de futebol, numa zona rural sem nenhuma infraestrutura dentro de um barco no meio do rio ou dentro de uma universidade com toda a infraestrutura que você precisa. Então talvez passar essa experiência para os profissionais, para a nova geração que está se formando e para a nova geração que precisa ter uma mente mais aberta mais inovadora, eu acho que isso é relevante para qualquer mercado independente de ser norte-nordeste. Eu acho que a gente tem que sair da nossa caixinha e tentar inovar cada vez mais com nossas iniciativas. A prática fala mais que a teoria.
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